Letícia Novaes nasceu no dia 05 de janeiro, no Rio de Janeiro. É atriz (formada pelo Centro de Artes de Laranjeiras), escritora, cantora, compositora e instrumentista.
Já teve uma banda chamada “Letícios” e também um projeto de música eletrônica intitulado “Menage à trois“. Formou nos anos 2008 a banda “Letuce”, duo com Lucas Vasconcellos, parceria que durou mais de 7 anos, lançando juntos 2 albums. Em 2015, publicou seu primeiro livro: “Zaralha: abri minha pasta” pela editora Guarda Chuva. O livro reúne um material poético, com versos inéditos da escritora.
Deu início a sua carreira solo em 2017, como Letrux, apelido que ganhou de amigos. Lançou “Letrux em Noite de Climão“, disco feito através de financiamento coletivo com o selo da gravadora Joia Moderna. O disco levou o troféu de melhor álbum do ano de 2017 pelo júri do Prêmio Multishow. Letícia também gosta muito de astrologia, poesia e literatura e inclusive, criou no instagram a hashtag #livroaomar onde publica sua leitura do momento em frente as ondas do mar.
Entrevistamos a cantora via email, sobre seu álbum “Letrux em Noite de Climão”, após ficar longos meses ouvindo sem parar. Entre amigos chegou a ser um evento “eaí, vamos se reunir mais uma vez pra ouvir o disco da Letrux?!” O caso é que Letícia Novaes, expressa em Letrux o encontro de diversas linguagens artísticas, como as letras, as artes plásticas e a mediação cultural.
Entrevista:
AMH: 1) Muito tem se falado sobre empoderamento de mulheres, seja nas redes sociais ou em canções. Achamos que as suas músicas não romantizam o feminismo ou tentam tratar o tema de uma maneira didática, mas trazem a vivência e a experiência de diversas mulheres fortes, que ao longo da vida passaram por dores e alegrias. Como você vê o álbum nesse sentido?
Letrux: Acho que é bem por aí mesmo. Ou então quando trato de romance, abordo de uma maneira mais real, sem floreios. De um jeito tragicômico. Acho que o álbum fala da saga desastrosa de uma mulher numa noite. Com altos e baixos, luz e sombra, um passeio completo, ora divertido, ora meio triste. Mas sem dúvida, dançante.
AMH: 2) A poeta e escritora estadunidense Audre Lorde tem um ensaio onde diz que as mulheres precisam “transformar o silêncio em linguagem e ação”. Na canção “Puro Disfarce” você diz no refrão <<Nessa lama vou pedir socorro agora /Socorro! Socorro!>>. Seria um recado para que as mulheres comecem a sair do silêncio e pedirem socorro quando preciso? Quando foi que você percebeu a importância de romper o silêncio e pedir socorro?
Letrux: Pois! Penso muito nisso, como é difícil as pessoas pedirem socorro, seja pra amigues, ou parentes, ou até mesmo parceiro/a. Não sei porque as pessoas têm vergonha em demonstrar fragilidade. Ser frágil é ser vivo no planeta atual. Quem não é frágil, pra mim, já é robô. Já tá no automático. Estamos vivendo numa lama muito profunda e movediça. Não dá pra conseguir tudo sendo sozinha, é preciso de uma rede, a quem você pode pedir socorro quando precisa. Essa rede, que você cria, é das coisas mais importantes da sua vida.
AMH: 3) Existe uma construção social de que nós, mulheres, precisamos de um amor romântico, uma relação que nos preencha. E então, muitas vezes suportamos violências e abusos pelo medo de ficar só. “Noite Estranha, Geral Sentiu” diz “Dá um tempo pro amor /Vai viver sem pensar/Que viver é amar”. Você considera que suas músicas são uma desconstrução desse amor romântico?
Letrux: Eu passei anos da minha vida muito focada em amor, tenho sol na casa 5, e sei que o amor é um assunto que vou ainda abordar muito na minha poesia, música, arte, enfim. Ainda considero o amor extremamente importante e necessário, mas é preciso saber que viver não é só amar. Ou não é só amar alguém. Viver é se amar, é amar acordar, é amar comer ovo no café da manhã, é amar lavar a louça, lavar o cabelo, enfim. Auto amor move montanhas e muda mundos. Faz evoluir. Acho romance um barato, quando é real, quando tropeça, quando erra, quando não vem numa nuvem cinematográfica de mentira.

AMH: 4) Na sua vida, qual foi o seu grande desvio? (parafraseando Além de Cavalos)
Letrux: Uau! Meu grande desvio… (parei pra pensar e voltei) Acho que o grande desvio que dei na vida foi escolher viver de arte. Não venho de uma família artista, apesar de apoio total de pai e mãe, até 2 anos atrás, eles ainda se preocupavam e sugeriam que eu terminasse uma faculdade, que pensasse dar aula de inglês num cursinho, talvez. Foi um desvio inconsciente a princípio. E há uns 3 anos fiz o desvio com consciência. Artista sempre serei, mas há uns 3 anos estipulei que se nada acontecesse com Letrux, eu faria um novo desvio, investiria numa outra área, talvez. Fico feliz que estou conseguindo viver da minha arte, é tão difícil, ainda mais no Brasil, muito medo do futuro que já se anuncia, mas vamos lá.
AMH: 5) Quais escritoras e poetas mulheres marcaram sua vida? Poderia recomendar algumas para os leitores do blog?
Letrux: Olha, estou terminando Um Defeito de Cor, da Ana Maria Gonçalves e estou simplesmente impressionada, acho que é uma leitura obrigatória. Cedo na vida conheci Clarice Lispector e isso foi de grande impacto também. Tive a fase Sylvia Plath, Sophia de Mello Breyner, Adélia Prado, Ana Cristina César, Wislawa, ano passado conheci uma mulher que me fez chorar lendo. Lucia Berlin, “Manual da Faxineira”, contos maravilhosos.
AMH: 6) Com base nas suas manifestações recentes em relação a atual situação política do Brasil, como a resistência pode se tornar um compromisso no âmbito da produção artística?
Letrux: É contraditório eu estar trabalhando tanto e o Brasil indo de mal a pior. Era pra eu estar feliz, fazendo minha arte, mas é complicado existir nos tempos que correm. Acho que metade da população sente esse horror e fica mais ávido por aquilo que é capaz de transformar, questionar, causar: arte. Sinto me em constante caos criativo, momentos que ando inspirada e n’outros momentos uma preguiça enorme e dúvidas de “pra quê?”, mas aí recebo e-mails ou mensagens lindas de pessoas falando o quanto minhas músicas ajudaram em algum momento, e aí me animo de volta. Claro que não sou dependente do elogio, mas sem dúvida ajuda, ainda mais numa época cheia de haters, onde é fácil se proteger atrás da tela do celular e destilar ódio contra artistas que se propõem a questionar o tempo que vivem. Mas sem dúvida, é bom receber o calor carinhoso do público, é a tal mão segurando a outra.
Ouça “Letrux em Noite de Climão”:
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