Eugenia Alvaro Moreyra: uma pioneira no jornalismo

Eugenia Brandão, que posteriormente tornou-se Eugenia Alvaro Moreyra, nasceu em Minas Gerais no ano de 1898 e mudou-se para o Rio de Janeiro ainda bastante jovem,após a morte de seu pai. Com atitude pouco usual para o início do século XX,
circulava entre artistas e intelectuais, usava calça e paletó, fumava charutos. E é desse jeito que Eugenia se apresentou a redação do jornal A Rua em busca de trabalho. Possuindo bom texto e ousadia ela conseguiu ser aprovada para o cargo,
tornando-se a primeira mulher a trabalhar como repórter no Brasil.
 
Eugenia fez enorme sucesso na profissão após a publicação de uma série de reportagens que ela escreveu sobre a vida das mulheres do Asilo Bom Pastor, um internato para as moças consideradas desvirtuadas da sociedade. Eugenia havia se infiltrado disfarçadamente no local em busca de dona Albertina, irmã de uma mulher vítima de um assassinato e cujo marido era um tenente do exército e principal suspeito do crime, com quem Albertina tinha um caso. Não obtendo sucesso na busca da irmã da vítima, Eugenia decidiu revelar a situação a qual eram submetidas às mulheres do internato, que eram privadas de sua liberdade e viviam sob a constante vigilância das madres.
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As reportagens que escreveu, com apenas 16 anos, circularam pela sociedade da época causando polêmica por seu tom de crítica à religião católica. Foram os primeiros passos de Eugenia na militância feminista. Atriz e declamadora de poesia, Eugenia fundou junto com o marido, Alvaro Moreyra, o “Teatro de Brinquedo”, cuja intenção era a de renovar o teatro nacional na criação de um teatro que fizesse rir, mas fizesse pensar. A primeira peça encenada foi Adão, Eva e Outros Membros da Família, uma crítica com um humor ácido à sociedade burguesa, e com atuação dela própria.
 
O círculo de amizades de Eugenia era composto por importantes artistas de vanguardas da época, entre eles: Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, Graciliano Ramos, Pagu e Di Cavalcanti, que chegou a pintar um retrato seu. A casa dela, apelidada de “o 99”, era o ponto de encontro onde todos se reuniam, um espaço artístico e de debates sobre os rumos do país. Lá, Eugenia tinha que conciliar o papel de anfitriã, militante e declamadora, com a atenção aos 8 filhos e o preparo do panelão de comida aos convidados
.
Foi ela, também, a responsável por fazer com que os poemas de Oswald, Mario, Raul Bopp, Manuel Bandeira, entre outros, chegassem aos principais palcos do país, espaços resistentes à arte e cultura nacionais, mas que através de sua voz começaram a ser aceitos nesses espaços até então exclusivos ao que vinha de fora.
 
Eugenia se uniu ao movimento sufragista no Brasil e tornou uma das líderes na luta pelo direito das mulheres ao voto e pela emancipação feminina. Em 1935, filiou-se ao Partido Comunista e fundou a União Feminina do Brasil. Nesse mesmo ano foi presa pelo governo de Getúlio Vargas, acusada de subversão. Em carta escrita da prisão Eugenia pediu ao marido para dispensar seu advogado para que ela mesma pudesse atuar em sua defesa. Após 5 meses, foi libertada por falta de provas.
 
Em 1936, Eugenia foi eleita presidente do sindicato dos artistas de teatro, saindo em seguida com sua companhia pelo interior do Brasil, na intenção de fazer com que a arte chegasse a toda população. Na volta, foi reeleita para a presidência do sindicato,
mas impedida de assumir pela polícia, novamente acusada de subversão.
 
Em 1946, ela se candidatou a deputada federal, mas não foi eleita – assim como nenhuma outra mulher naquele ano.
Eugenia Alvaro Moreyra faleceu no ano de 1948, aos 50 anos, durante uma partida de baralho, vítima de um AVC. A repercussão de sua morte na imprensa foi comovente,
aclamada como “grande artista do povo”, “uma jornalista de combate, cuja pena sempre esteve a favor das causas democráticas”. Tinha expressão e personalidade marcante, seus olhos eram definidos como dois carvões acesos. Como disse o amigo Oswald de Andrade, “o que se deve a Eugenia Alvaro Moreyra será calculado um dia”.
 
Escrito e enviado por Isabella Poppe.
 
Fontes:
Arquivo pessoal doado a Fundação Casa de Rui Barbosa.
Reportagens do jornal A Rua de 1914, encontradas no arquivo da Biblioteca Nacional.
 
Referencia na web:
mulher-alem- do-tempo/
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