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5 escritoras da geração beat

“Uma mulher da plateia pergunta: “Por que tem tão poucas mulheres nesta mesa redonda? Por que tem tão poucas mulheres na programação da semana? Por que tinha tão poucas mulheres entre os escritores Beat?” e Gregory Corso, ficando de repente completamente sério, se inclina para frente e diz: “Tinha mulheres sim, eu conheci elas, suas…

Uma mulher da plateia pergunta: “Por que tem tão poucas mulheres nesta mesa redonda? Por que tem tão poucas mulheres na programação da semana? Por que tinha tão poucas mulheres entre os escritores Beat?” e Gregory Corso, ficando de repente completamente sério, se inclina para frente e diz: “Tinha mulheres sim, eu conheci elas, suas famílias puseram elas em hospícios, foram parar no eletrochoque. Nos anos 50, se você fosse homem, dava para ser rebelde, mas se fosse mulher, a família te interditava. Teve casos, pessoas que eu conheci, e alguém algum dia vai escrever sobre elas”.

 

(Stephen Scobie em seu relato do tributo a Allen Ginsberg feito pelo Naropa Institute, em julho de 1994)

A Geração beat foi um movimento de artistas, e principalmente escritores e poetas norte-americanos, que vieram a se tornar conhecidos no final da década de 1950 e no começo da década de 1960. O objetivo era se expressar livremente e contar sua visão de mundo. Eram muitas vezes movidos a drogas, ácool, sexo e amor livre. Em algumas pesquisas, dizem que o hippie veio logo após esse movimento, influenciado por ele.

Ah, falando em pesquisas, basta procurar ‘geração beat’ no google para descobrir um mundo supostamente protagonizado apenas por homens:

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Divido com vocês então, uma breve pesquisa sobre algumas das mulheres que participaram desta geração:

Elise Cowen

 

Nascida em 1933, nova-iorquina, de família judaica. Após se relacionar com um professor da faculdade, Allen Ginserg, voltou para a casa dos pais e começou a trabalhar como datilógrafa. Foi demitida e retirada do escritório pela polícia quando se recusaram a lhe dar um motivo pela demissão.

Foi para San Francisco, onde chegou a fazer um aborto. Voltou para a casa dos pais mais uma vez, que quiseram interná-la no Bellevue Hospital. Não querendo ser internada, em fevereiro de 1962, aos 28 anos de idade, ela se atirou de uma janela do sétimo andar.

Após a morte, seus poemas foram queimados pelos vizinhos. Elise escrevia sobre morte, loucura, sexo e drogas. Era vista como um perigo.

O único volume de poemas exclusivamente dela, Elise Cowen: Poems and Fragments, editado por Tony Trigilio, reunindo poemas resgatados, saiu em 2014.
EU TENTEI

Tentei
Tenho tentado
Tentarei novamente
Embora a fraqueza do meu Ser
Não há nada digno
A não ser Deus e você
E Deus foi dormir

(Tradução: Emanuela Siqueira)
(Clique aqui para ler mais sobre Elise)

Hettie Jones

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Nascida em Nova York, em 1934, em uma família judia de classe média, nunca se sentiu pertencia as normas definidas para jovens da sua época e camada social. Rompeu com padrões sociais da sua época norte-americana ao namorar o poeta negra LeRoi Jones, mais conhecido como Amiri Baraka, com quem se casou e teve duas filhas depois.

Hettie já escreveu livros de poesia e de literatura infanto-juvenil. É professora e trabalha com oficinas e cursos de criação literária.

Palavras

são chaves
ou suportes
ou pedras

Te dou minha palavra
Você a embolsa
e fica com os trocados

Eis aqui a palavra
na ponta da minha língua: amor

Eu lhe dou abrigo
ela sonha ir embora

(tradução: Miriam Adelman)

Denise Levertov

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Nascida no Reino Unido, no ano de 1923, com doze anos enviou secretamente alguns poemas para T. S. Eliot, que respondeu, incentivando-a a prosseguir.

Chegou aos Estados Unidos no fim dos anos 40, já casada com o escritor norte-americano Levertov Russell Goodman. Ela se naturalizou estadunidense em 1956, ano em que lançou seu primeiro livro de poemas, “Here and Now”. Denise publicou mais de 20 obras na área, além de quatro de prosa. Foi também tradutora atuante.

Participou no Brasil, em 1980, da coletânea da Escrita “Quingumbo ─ Nova Poesia Norte-Americana”, que, em edição bilíngue, reuniu 20 autores e foi organizada pelo também poeta Kerry Shawn Keys.

Faleceu no dia 20 de dezembro de 1997.

(para ler mais sobre Denise clique aqui)

Os mudos [Traduzido por Ary Gonzalez Galvão]

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Joyce Johnson

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Nascida em 1935, aos oitos anos começou uma breve carreira de atriz mirim na Broadway.
Após terminar o ensino médio, em 1951, entrou para o Barnard College, mas logo abandonou os estudos. Aos 19 anos, deixou a casa dos pais.

Em 1962, aos 26 anos, escreveu “Come and Join the Dance”, o primeiro romance Beat escrito por uma mulher. Escreveu o livro de memórias “Minor Character” que deu visibilidade as mulheres do movimento beat. Atualmente, tem 80 anos e continua escrevendo.

Trecho de “Minor Characters: A Young Woman’s Coming-of-Age in the Beat Orbit of Jack Kerouac” traduzido por Miriam Adelman

No final dos anos 1950, mulheres jovens – poucas no início – mais uma vez saiam de casa com uma certa violência. Elas também vinham de boas famílias, e seus pais nunca conseguiram entender como as filhas que eles tinham criado com tanta dedicação poderiam escolher uma vida precária. Se esperava de uma filha que ela ficasse sob o teto dos pais até casar, mesmo se trabalhasse um ano, mais ou menos, adquirindo um pouco de gosto pelo mundo – mas não muito! Experiência, aventura – estas coisas não eram para mulheres jovens. Todo mundo sabia que as aproximariam do sexo. Sexo era para os homens. Para as mulheres, sexo era tão perigoso quanto a roleta russa; uma gravidez indesejada ameaçava a vida em mais de um sentido. Quanto à arte- as jovens estilosas tinham um lugar como musas e admiradoras. (…)

Diane Di Prima

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Nascida em Nova York, em 1934, foi criada no bairro do Brooklyn. Começou a escrever aos sete anos de idade. Mais tarde, mudou-se para Manhattan, onde fez contato com a cultura beat.

Poeta feminista, pornográfica e contestadora. Defendeu o sexo livre, protestou contra o Vietnã, lutou pelas liberdades civis, chegou a ser presa por publicar obras consideradas obscenas, virou hippie, tornou-se budista, defendeu o aborto, casou e se divorciou duas vezes, teve cinco filhos, deu aulas e palestras. Escreveu mais de 40 livros.

Sua unica obra publicada no Brasil é o “Memórias de uma beatnik”, de 1969, livro autobiográfico.

Diane Di Prima vive atualmente no norte da Califórnia e continua escrevendo, além de pintar e ensinar literatura.

(Leia mais sobre Diane clicando aqui)

CRONOLOGIA

eu te amei em outubro
quando você se ocultou atrás de seu cabelo
e conduziu sua sombra
pelos cantos da casa

e em novembro você invadiu
preenchendo o ar
acima da minha cama com sonhos
gritos por algum socorro
lá no fundo em meu ouvido

em dezembro eu segurei suas mãos
numa tarde; a luz falhou
e voltou num amanhecer na costa da Escócia
você cantando para a terra e para nós

agora é janeiro, você se dissolve
em seu duplo
joias em seu colar, a sua sombra na neve,
você desliza para longe no vento, o ar cristalino
carrega suas novas canções em soluços através das janelas
de nossos tristes, altos, lindos quartos

(traduzido por: André Caramuru Aubert)

Para continuar conhecendo mulheres escritoras da geração beat, recomendo a edição especial do RelevO, de março, dedicada às escritoras da Geração Beat. O material foi organizado pelas professoras Miriam Adelman e Renata Senna Garraffoni, ambas da UFPR. Para ler, clique aqui.

Também foi lançado recentemente pela editora hedra, o livro “Meninas que vestiam preto” sobre as autoras Anne Waldman, Diane di Prima, Elise Cowen, Marie Pensot e Denise Levertov:  https://goo.gl/CY8gJL

Respostas a “5 escritoras da geração beat”.

  1. Por onde andam as escritoras do presente e do passado? – Vós

    […] existiam mulheres nesse movimento literário. Não existiam ou ganharam visibilidade? Pois ao ler um texto do sensacional projeto As Minas e a História descobri que existiram, sim, escritoras […]

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  2. Angelo de Carvalho

    Posso estar errado, mas a foto presente no texto não é da Elise Cowen, é da Diane Wakoski.

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    1. asminanahistoria

      Muito obrigada pela observação. Já corrigimos e pedimos desculpas pelo erro. Gracias.

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