O bairro Tarsila do Amaral, em Campo Grande, que fica próximo a saída para Cuiabá, possui 97% das ruas com nome de mulheres.
As ruas de uma cidade servem para homenagear pessoas/lugares que foram ou fizeram algo importante. – Ok, sabemos que nem sempre essa justificativa é totalmente válida. Me impressiona um bairro com praticamente todas as ruas com nomes femininos, mostrando mulheres como agentes históricos.
Mas é claro que a maioria das pessoas não estão atentas a esses detalhes, eu mesma, por exemplo, passei anos da minha vida nesse bairro e NUNCA tinha notado isso. Talvez a falta de informação por parte do poder publico também ajude, pois as ruas praticamente não possuem placas, muito menos uma explicação sobre quem foi tal pessoa.
Conheça então as mulheres que fazem esse bairro ser tão feminista:
Rua Ana Pimentel – CEP 79017-430
Ana Pimentel teve grande importância na construção do Brasil colonial. Casada com o nobre português Martim Afonso de Sousa, ela recebeu do marido a incumbência de administrar a capitania de São Vicente no dia 3 de março de 1534.
Em 1536, Ana fez uma carta de doação de sesmaria para Brás Cubas, que só tomou posso efetiva das terras em 1540. Nomeou ainda, sucessivamente, como capitão-mor da capitania de São Vicente, António de Oliveira e Cristóvão de Aguiar d’Altero.
Em 1544, nomeou Brás Cubas capitão -mor e ouvidor da capitania e, contrariando ordenes do marido, autorizou, o acesso dos colonos ao planalto paulista, onde se encontravam terras mais fortes e um clima mais ameno do que no litoral.
Ana Pimentel providenciou o cultivo de laranja na capitania com o objetivo de combater o escorbuto, uma doença provocada pela falta de vitamina C que atacava os embarcados durante a travessia do Atlântico. É responsável também pela introdução do cultivo do arroz, do trigo e da criação de gado na região.
O papel administrativo de Ana Pimentel na capitania, por mais de uma década, foi reconhecido pelo sociólogo Gilberto Freire em seu discurso na Academia Pernambucana de Letras, em 11 de novembro de 1986.
Rua Anita Malfatti – CEP 79017-405
Anita Catarina Malfatti (São Paulo, 2 de dezembro de 1889 – São Paulo, 6 de novembro de 1964), pintora, desenhista, gravadora, ilustradora e professora.
Fundou com Tarsila do Amaral, Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Menotti Del Pichia o Grupo dos Cinco, em 1922, e participou da Semana de Arte Moderna. Anos mais tarde, integrou na Sociedade Pró-Arte Moderna (SPAM), na Família Artística Paulista (FAP) e participou do Salão Revolucionário.
Rua Bertha Lutz – CEP 79017-355
Cientista, líder feminista e política paulista (1894-1976). É uma das pioneiras da luta pelo voto feminino e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres no país.
Berta Maria Júlia Lutz (2/8/1894-16/9/1976) nascida na cidade de São Paulo. Formo-se em ciências naturais na Universidade de Paris, a Sorbonne, especializando-se em anfíbios anuros, subclasse que inclui os sapos, as rãs e as pererecas. Em 1919 começou a se destacar na busca de igualdade de direitos jurídicos entre os sexos, ao se tornar a segunda mulher a ingressar no serviço público brasileiro, após ser aprovada em concurso do Museu Nacional, no Rio de Janeiro. No mesmo ano fundou a Liga para a Emancipação Intelectual da Mulher. Em 1922 representou as brasileiras na assembléia-geral da Liga das Mulheres Eleitoras, nos Estados Unidos, onde foi eleita vice-presidente da Sociedade Pan-Americana. Ao regressar, criou a Federação Brasileira para o Progresso Feminino, que substituia a liga criada em 1919, para encaminhar a luta pela extensão de direito de voto às mulheres. O direito de voto feminino é estabelecido por decreto-lei do presidente Getúlio Vargas apenas dez anos depois, em 1932. Em 1936 assume uma cadeira de deputada na Câmara Federal. Durante seu mandato, defendeu a mudança da legislação referente ao trabalho da mulher e dos menores de idade, propondo a igualdade salarial, a licença de três meses para a gestante e a redução da jornada de trabalho, então de 13 horas. Morreu no Rio de Janeiro.
Rua Chiquinha Gonzaga – CEP 79017-435
Francisca Edwiges Neves Gonzaga, mais conhecida como Chiquinha Gonzaga (Rio de Janeiro, 17 de outubro de 1847 — 28 de fevereiro de 1935) foi uma compositora, pianista e maestrina brasileira.
Foi a primeira chorona, primeira pianista de choro, autora da primeira marcha carnavalesca com letra (“Ó Abre Alas”, 1899) e também a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil.
Rua Clarice Lispector – CEP 79017-390
Clarice Lispector (Chechelnyk, 10 de dezembro de 1920 — Rio de Janeiro, 9 de dezembro de 1977) foi uma premiada escritora e jornalista nascida na Ucrânia e naturalizada brasileira — e declarava, quanto à sua brasilidade, ser pernambucana —, autora de romances, contos e ensaios sendo considerada uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior escritora judia. Sua obra está repleta de cenas cotidianas simples e tramas psicológicas, sendo considerada uma de suas principais características a epifania de personagens comuns em momentos do cotidiano.
Rua Dorcelina Folador – CEP 79017-370
Dorcelina de Oliveira Folador nascida em 27 de julho de 1963, em Guaporema/PR. Chegou a Mundo Novo em 1976 com onze anos de idade. Iniciou sua atuação na Pastoral da Juventude no ano de 1980. Em 1987, ajudou a fundar o Partido dos Trabalhadores, candidatando-se no ano de 88 a vereadora.
Professora, poeta, artista plástica, em 1989 começou a contribuir no MST, chegando à direção estadual do Movimento e atuando como repórter popular do Jornal dos Sem-Terra.
Ajudou a fundar também a A.M.P.D.F. – Associação Mundonovense dos Portadores de Deficiência Física.
Depois de novamente candidata a vereadora em 92 e a Deputada Estadual em 95, Seu mandato foi interrompido em 30/10/99 às 23:00, quando foi assassinada na varanda de sua casa, aos 36 anos, por um pistoleiro.
Rua Florbela Espanca – CEP 79017-415
Florbela Espanca (Vila Viçosa, 8 de dezembro de 1894 — Matosinhos, 8 de dezembro de 1930), batizada como Flor Bela Lobo, e que opta por se autonomear Florbela d’Alma da Conceição Espanca, foi uma poetisa portuguesa. A sua vida, de apenas trinta e seis anos (suicidou-se), foi plena, embora tumultuosa, inquieta e cheia de sofrimentos íntimos que a autora soube transformar em poesia da mais alta qualidade, carregada de erotização, feminilidade e panteísmo.
Rua Indira Gandhy – CEP 79017-410
Indira Priyadarshini Gandhi, (Allahabad, 19 de Novembro de 1917 — Nova Délhi, 31 de Outubro de 1984), foi a primeira mulher a ocupar o cargo de chefe do governo indiano. Foi primeira-ministra da Índia entre 1966 e 1977 e entre 1980 e 1984.
Rua Irmã Dulce – CEP 79017-385
Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes (Salvador, 26 de maio de 1914 — Salvador, 13 de março de 1992), mais conhecida como Irmã Dulce, Beata Dulce dos Pobres ou Bem-Aventurada Dulce dos Pobres, tendo recebido o epíteto de “o anjo bom da Bahia”, foi uma religiosa católica brasileira.
Irmã Dulce ganhou notoriedade por suas obras de caridade e de assistência aos pobres e necessitados, obras essas que ela praticava desde muito cedo. Na juventude já lotava a casa de seus pais acolhendo doentes. Ela também criou e ajudou a criar várias instituições filantrópicas: uma das mais importantes e famosas é o Hospital Santo Antônio, que foi construído no lugar do galinheiro do Convento Santo Antônio. Hoje atende diariamente mais de cinco mil pessoas.
Irmã Dulce foi uma das mais importantes, influentes e notórias ativistas humanitárias do século XX. Suas grandes obras de caridade são referência nacional, e ganharam repercussão pelo mundo, tanto que seu nome é sempre relacionado à caridade e amor ao próximo.
Rua Leila Diniz – CEP 79017-400
Leila Roque Diniz (Niterói, 25 de março de 1945 — Nova Délhi, Índia, 14 de junho de 1972) foi uma atriz brasileira.
Formou-se em magistério e foi ser professora do jardim de infância no subúrbio carioca. Aos dezessete anos, conheceu seu primeiro marido, o cineasta Domingos de Oliveira e casou-se com ele. O relacionamento durou apenas três anos. Foi nesse momento que surgiu a oportunidade de trabalhar como atriz. Primeiro estreou no teatro e logo depois passou a trabalhar na TV Globo, atuando em telenovelas. Mais tarde, casou-se com o cineasta moçambicano Ruy Guerra, com quem teve uma filha, Janaína. Participou, ao todo, de quatorze filmes, doze telenovelas e várias peças teatrais.
Leila Diniz quebrou tabus de uma época em que a repressão dominava o Brasil, escandalizou ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocou o país inteiro ao proferir a frase: Transo de manhã, de tarde e de noite. Considerada uma mulher à frente de seu tempo, ousada e que detestava convenções. Foi invejada e criticada pela sociedade conservadora das décadas de 1960 e 1970. Morreu num acidente aéreo, voo JAL471, da Japan Airlines, no dia 14 de junho de 1972, aos 27 anos, no auge da fama, quando voltava de uma viagem à Austrália.
Rua Lina Bo Bardi – CEP 79017-395
Achilina Bo, mais conhecida como Lina Bo Bardi, (Roma, 5 de dezembro de 1914 — São Paulo, 20 de março de 1992) foi uma arquiteta modernista ítalo-brasileira. É conhecida por ter projetado o Museu de Arte de São Paulo (MASP) e SESC Pompeia.
Rua Luz Del Fuego – CEP 79017-425
Luz del Fuego, nome artístico de Dora Vivacqua (Cachoeiro de Itapemirim, 21 de fevereiro de 1917 — Rio de Janeiro, 19 de julho de 1967), foi uma bailarina, naturista e feminista brasileira.
Luz del Fuego apresentava-se seminua com uma ou às vezes duas cobras jibóias enroladas em seu corpo e ficou muito famosa em sua época. Adepta da alimentação vegetariana e do nudismo, não fumava, nem ingeria bebidas alcoólicas e, através de uma concessão da Marinha, obteve licença para viver na ilha Tapuama de Dentro, que foi por ela rebatizada como “Ilha do Sol” e onde fundou o primeiro clube naturista do Brasil, o “Clube Naturalista Brasileiro”.
Devido a sua coragem para enfrentar o preconceito de sua época com relação ao nudismo, e pelo pioneirismo na criação do primeiro clube naturista do Brasil, tem hoje sua data de nascimento, 21 de fevereiro, lembrada e comemorada entre os naturistas brasileiros, como “Dia do Naturismo”.
Em 1967, Luz del Fuego e seu caseiro foram assassinados, seus corpos foram amarrados em pedras e depois lançados para o fundo do mar. Após a sua morte, a Ilha do Sol voltou a ficar desabitada.
Rua Madre Cristina – CEP 79017-360
Célia Sodré Dória, na vida religiosa Madre Cristina, (Jaboticabal, 7 de outubro de 1916 — São Paulo, 26 de novembro de 1997) foi uma religiosa católica brasileira, cônega da congregação de Santo Agostinho, educadora, psicóloga, fundadora e diretora do Instituto Sedes Sapientae (em latim, sede de sabedoria). Teve participação ativa na resistência ao regime militar, na campanha da anistia política e na organização de movimentos sociais.
Na fase mais dura do regime militar, transformou parte de sua clínica na capital paulista em alojamentos para abrigar perseguidos políticos. No mesmo local, passou a funcionar de fato a sede da UNE, pois ali despachava regularmente José Serra, também procurado pelos órgãos de repressão. Com isso, entrou na mira, não só da polícia política, como era previsível, mas também de setores conservadores da Igreja.
No governo Médici (1969-1974), vários presos políticos foram torturados para confessar alguma ligação de Madre Cristina com suas organizações clandestinas. Mas a freira comunista, como era chamada pelos defensores do regime, nunca chegou a ser presa ou sofrer alguma represália mais séria, apesar das constantes ameaças de morte que recebia.
Em 1977, fundou o Instituto Sedes Sapientiae, no bairro paulistano de Perdizes, que oferece cursos de especialização nas áreas de pedagogia, psicologia e filosofia, mas é principalmente uma instituição aberta para a discussão dos temas ligados à desigualdade social, com a participação ativa de movimentos como os que congregam os sem-terra e os defensores das causas indígenas.
Rua Mãe Menininha do Gantois – CEP 79017-380
Maria Escolástica da Conceição Nazaré (Salvador, Bahia, 10 de fevereiro de 1894 – 13 de agosto de 1986), conhecida como Mãe Menininha do Gantois, foi uma Iyálorixá (mãe-de-santo) brasileira, filha de Oxum.
Mãe Menininha do Gantois foi a ialorixá mais famosa do país. Sob seu comando, o Terreiro do Gantois logo se tornou um dos mais procurados e respeitados da Bahia. Para muitos pesquisadores, a popularidade e o reconhecimento que Mãe Menininha alcançou foram de fundamental importância para aumentar a aceitação do candomblé na sociedade.
Recebeu muitos títulos, homenagens e medalhas. Uma das que mais gostava era a dos Filhos de Gandhy, que a nomearam madrinha do afoxé. Em 1972, Dorival Caymmi compôs a famosa música Oração a Mãe Menininha, que trazia os versos: “A beleza do mundo, hein? Tá no Gantois./ E a mão da doçura, hein? Tá no Gantois./ O consolo da gente, ai. Tá no Gantois…/ Ai, minha mãe. Minha Mãe Menininha”.
Além dele, Jorge Amado, Antônio Carlos Magalhães, Vinícius de Moraes, Maria Bethânia e Caetano Veloso eram algumas das inúmeras personalidades que se aconselhavam com Mãe Menininha. Em 1994, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou um selo comemorativo para marcar o centenário de seu nascimento.
Rua Maria Quitéria – CEP 79017-375
Maria Quitéria de Jesus Medeiros (Feira de Santana, 27 de julho de 1792 — Salvador, 21 de agosto de 1853) foi uma militar brasileira, heroína da Guerra da Independência. É considerada a primeira mulher a assentar praça numa unidade militar das Forças Armadas Brasileiras e a primeira mulher a entrar em combate pelo Brasil, em 1823.
Rua Nísia Floresta – CEP 79017-365
Nísia Floresta Brasileira Augusta, pseudônimo de Dionísia Gonçalves Pinto, (Papari, atual Nísia Floresta, 12 de outubro de 1810 — Rouen, França, 24 de abril de 1885) foi uma educadora, escritora e poetisa brasileira. É considerada uma pioneira do feminismo no Brasil e foi provavelmente a primeira mulher a romper os limites entre os espaços público e privado publicando textos em jornais, na época em que a imprensa nacional ainda engatinhava. Nísia também dirigiu um colégio para moças no Rio de Janeiro e escreveu livros em defesa dos direitos das mulheres, dos índios e dos escravos.
Direitos das mulheres e injustiça dos homens, primeiro livro escrito por ela, e o primeiro no Brasil a tratar dos direitos das mulheres à instrução e ao trabalho. Foi esse livro que deu à autora o título de precursora do feminismo no Brasil e até mesmo da América Latina, pois não existem registros de textos anteriores realizados com estas intenções, mas ela não parou por ai, em outros livros ela continuará destacando a importância da educação feminina para a mulher e a sociedade. São eles: Conselhos a minha filha, de 1842; Opúsculo humanitário, de 1853; A Mulher, de 1859.
Rua Zuzu Angel – CEP 79017-447
Zuleika Angel Jones, nascida Zuleika de Souza Netto e conhecida como Zuzu Angel, (Curvelo, 5 de junho de 1921 — Rio de Janeiro, 14 de abril de 1976) foi uma estilista brasileira, mãe do militante político Stuart Angel Jones e da jornalista Hildegard Angel.
Personagem notória do Brasil da época da ditadura militar, ficou conhecida nacional e internacionalmente não apenas por seu trabalho inovador como estilista de moda mas também por sua procura pelo filho, militante, assassinado pelo governo e transformado em desaparecido político, em que enfrentou as autoridades da época e levou sua busca a se tornar conhecida no exterior.
A busca de Zuzu pelas explicações, pelos culpados e pelo corpo do filho só terminou com sua morte, ocorrida na madrugada de 14 de abril de 1976, num acidente de carro na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (Estrada Lagoa-Barra), Rio de Janeiro, hoje batizado com seu nome.
Tarsila do Amaral
Tarsila do Amaral (Capivari, 1 de setembro de 1886 — São Paulo, 17 de janeiro de 1973) foi uma pintora e desenhista brasileira e uma das figuras centrais da pintura e da primeira fase do movimento modernista no Brasil, ao lado de Anita Malfatti. Seu quadro Abaporu, de 1928, inaugura o movimento antropofágico nas artes plásticas.
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Descobrir e conhecer as histórias nos levam a uma redescoberta da cidade. É através do conhecimento e da informação que se desperta o sentimento de pertencimento. Esse bairro carrega uma força histórica feminina enorme, que pode servir de inspiração para quem vive ali. Por isso, meu próximo passo é colar lambes pelas ruas contando a história das mulheres. Já que a prefeitura não se importa, façamos nós mesmos.
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