Desde pequena, Léa gostava de futebol e chegou a ser atacante de um time feminino. Quando cresceu, ela experimentou outras atividades: foi Miss Belo Horizonte, se formou em educação física e jornalismo. Trabalhou com jornalismo esportivo, mas queria mais.
Léa fez o curso da escola de árbitros do Departamento de Futebol Amador da Federação Mineira de Futebol e se formou em 1967, mas teve seu diploma bloqueado por uma lei que dizia: “às mulheres não se permitirão a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza”.
O caso chamou atenção dos militares, que comandavam o Brasil na ditadura. Léa foi presa várias vezes. “Levavam-me para o DOPS, diziam que eu estava fazendo terrorismo, subversão. E tinha de me explicar dizendo que o que fazia era apenas uma forma de distração. Nunca obriguei ninguém a nada, vai quem quer, só o que queríamos era jogar futebol. De tanto ir à delegacia, acabei até ficando amiga do delegado. Acabava ficando 10, 15 minutos lá, e ele me liberava”, ela contou, em entrevista ao GloboEsporte.com.
O diploma de Léa só foi liberado pela CBF depois que ela se encontrou pessoalmente com o presidente do Brasil, que na época era Emílio Garrastazu Médici. Nesta ocasião, ela descobriu que o filho do presidente era seu fã e fazia coleção de suas fotos em revistas.
E não foi só essa a dificuldade que Léa enfrentou para seguir na profissão: “As mulheres da minha família nunca me apoiaram. Os homens, sim. Mas as mulheres diziam que eu estava em busca de um jogador rico, que eu devia estar em casa, fazendo comida, lavando a roupa. Minha maior decepção foi essa. As mulheres deveriam apoiar umas às outras”.
Mas Léa não desistiu. Seguiu seu sonho e foi a primeira árbitra de futebol do mundo inteiro. Foi juíza de partidas em vários países e nunca teve reclamações. Teve que abandonar a arbitragem em 1974, após sofrer um grave acidente de carro que quase a fez perder uma perna, mas ainda assim não abandonou os esportes.
A mineira chegou a criar um campeonato de futebol feminino, estudou e se tornou árbitra de lutas de boxe e luta livre e hoje mora em Nova York, onde escreve sobre futebol feminino para um jornal feito para a comunidade brasileira nos EUA.
Léa está com 70 anos e se orgulha muito das batalhas que venceu. “Eu queria mostrar que a mulher podia exercer uma profissão dita masculina. Cheguei a um ponto em que me sentia na obrigação moral de seguir adiante, até onde fosse possível, até conseguir liberar a profissão”. Atualmente, o Brasil tem mais de 70 árbitras oficialmente apitando jogos de futebol.
Fernanda Lopes é jornalista, social media e especializada em escrita criativa. Acredita que, juntas, as mina podem fazer muito mais história.
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